Tempo – (Substantivo masculino)
Do latim “Tempus”, tempo é a grandeza física que permite medir a duração relativa ou separação das coisas mutáveis. Ideia de presente, passado e futuro no qual os eventos se sucedem.
Falar sobre o tempo, é também refletir sobre aquilo que nos atravessa, aquilo pelo qual passamos boa parte da nossa existência desejando ter mais. Criamos estratégias, queremos ter poderes para controlar este tempo, mas na verdade é ele que nos controla, e para o nosso desespero, para nós que somos mortais, ele tem fim!
A soma das experiências e dos aprendizados que fazem de mim o que sou hoje tem a duração de um pouco mais de 31 anos, alguns meses, dias, horas, minutos e segundos. A velocidade das informações, a modernidade, horas e horas trabalhando, o trafego intenso que impede os veículos de circularem nas grandes capitais, os avanços tecnológicos que a cada dia mais estão ao alcance das nossas mãos, tudo isto também me atravessa; basta desbloquearmos o Smartphone e pronto, já não temos mais controle de nada, nem de nós mesmos. A nossa percepção de mundo está cada vez mais afetada. Ontem o homem dominava a maquina, hoje a maquina domina facilmente a mente do homem.
É curioso observar como as coisas mais simples da vida podem nos ensinar tanto, mas é preciso estar aberto e atento para percebê-las.
Assim como a maioria de nós, nasci e cresci em cidade grande, São Paulo – SP; capital financeira e um dos principais polos culturais brasileiros, mas foi em New Delhi (Capital da Índia) que a minha percepção de tempo mudou.
Como dito nos posts anteriores, ao chegar em New Delhi eu fui acolhida por eles que hoje posso dizer que são minha família. Um apartamento simples, mas muito aconchegante, um lar de amor e muito aprendizado. Uma conexão de uma vida passada, ou até mesmo a certeza do destino; me senti em casa desde o momento em que cruzei a porta de entrada.
Minha primeira noite de sono foi engraçada para os indianos e congelante para mim, isto por que o frio que eu sentia era tão grande, eu tremia demais, as cobertas não davam conta de me esquentar, foi preciso aquecer as solas dos meus pés com álcool para que o resto do corpo ficasse quente.
Este inverno indiano não me presenteou com nenhum floco de neve vindo dos céus, mas me presenteou com a transformação de toda uma vida, me fez ver o quanto minha vida estava ligada no “piloto automático”, despertou minha mente e aqueceu meu coração.
Muitas pessoas costumam comparar o banheiro da casa como um grande templo dentro dos lares, não por conta do “trono”, mas por possivelmente ser um dos únicos lugares em que temos a liberdade de literalmente ficarmos sozinhos, é uma área comum e ao mesmo tempo a mais privativa para todos os moradores da casa; local de privacidade; apenas nós, nossas ideias, alegrias, tristezas, pensamentos. Eu particularmente concordo muito com esta comparação e acho impressionante a velocidade e quantidade de reflexões que costumamos (ou que eu costumo) ter enquanto tomamos banho; e já que toquei no assunto, foi exatamente tomando banho nesses dias gelados de inverno que questionei meus entendimentos sobre o tempo.
Há muitos anos eu não tomava um daqueles banhos que no Brasil costumamos chamar de “Banho de canequinha” (onde primeiramente precisamos aquecer a água e com a ajuda de um copo, balde ou caneca vamos nos limpando. Estamos acostumados a abrir a torneira, deixar a água quente ou fria cair e ir embora pelo ralo após passear pelos nossos corpos, e enquanto isto acontece pouco nos preocupamos com a temperatura externa, pouco ligamos para quantos litros estão sendo realmente utilizados e quanto estão sendo desperdiçados unicamente porque a sensação de relaxamento debaixo da água do chuveiro é maravilhosa.
Tomar banho na nova casa me fez perceber que não estou no controle de absolutamente nada, nem mesmo da temperatura da água que me limpa.
Existe uma sequência de ações que aprendi a seguir: Primeiro você coloca a quantidade de água necessária dentro de um balde, depois você conecta um aquecedor portátil na corrente elétrica e a outra ponta dele (uma barra de metal) você coloca dentro do seu balde com água. Isso vai demorar em média de 15 à 20 minutos para estar numa temperatura agradável, então você pode aproveitar este momento para adiantar algumas coisas, talvez separar suas roupas ou como por exemplo, escovar os dentes. Depois de aquecida você desconecta o aquecedor da tomada, leva seu balde para um lugar estratégico perto do ralo e a partir daí começa a uma nova contagem regressiva, isto porque a água não vai ficar quente para sempre, ela vai esfriar, e pra mim enquanto mulher, tudo o que eu não queria era ter que tirar o shampoo da cabeça com água fria.
Foi preciso me adaptar, era o tempo da água sobre mim, ela controlava meu tempo, ela ditava as regras e eu, apenas as obedecia, caso contrário ela ficaria fria e minha pinição não seria nada agradável para o frio de 4°C. Nada acontece por acaso, e que maravilhoso viver isto! Este também foi um sinal do meu recomeço, meu novo ciclo. Eu reconheço que este processo de aprendizado é lente e posso até dizer que é infinito, e que todos os dias, novas e novas adaptações são necessárias para que as nossas vidas sigam. Investir em horas e horas para escrever sobre tomar banho em outro país pode parecer besteira, mas sou humilde o bastante para reconhecer que precisei viver isto e entender que o domínio das coisa na minha vida precisava ser retomado começando pelo domínio de coisas julgadas por mim como simples e pequenas. Talvez em São Paulo, jamais teria esta percepção, justamente por este ser o meu local de cotidiano. Quando saímos da nossa zona de conforto a vida nos surpreende, e que belos aprendizados isso pode nos dar.
Queremos controlar tudo e no fim tudo isso escorre por entre os dedos. É no acumulo da vontade de controlar que tudo se perde, que os problemas surgem e se tornam maiores.
Existem coisas e situações que não estão em nossas mãos, e para todas elas “entendimento”… “tempo”… Nós podemos nos ajustar a cada uma delas, sejam elas sentimentos, crises, é como a temperatura do lado de fora de casa, que temos que enfrentar, esta é a vida!. É preciso refletir e aprender com aquilo que a vida nos mostra, com os sinais que o Universo (Deus, forças espirituais, como quiser chamar) nos manda. É Preciso ser mais responsável por si, pela água, comida, pela forma de falar, de agir, pelo banho, pela limpeza, e ser humilde para compreender que nossas ações nunca são restritas á nós mesmos e que elas causam impacto também nas vidas das outras pessoas. Obviamente não estou dizendo aqui que tudo o que acontece com o outro é nossa culpa, na verdade defendo um equilíbrio nesta balança de responsabilidades, que uma vez equilibrada paderá ser chamada de harmonia, respeito. É preciso ter calma, afinal de contas, tudo tem seu tempo!
“Time is free, but it is not priceless. You can’t own it, but you can use it. You can’t keep it, but you can spend it. Once you have lost it, you can never get it back” (Harwey Mackay)
“O tempo é livre, mas não tem preço. Você não pode possuí-lo, mas pode usá-lo. Você não pode mantê-lo, mas pode gastá-lo. Depois de perdê-lo, você nunca poderá recuperá-lo” (Harvey Mackay)
Mesmo morando em São Paulo por muitas vezes esquentando a água para tomar banho e lavar os meus filhos buscando no tempo explicações para toda busca que existe dentre de mim é para roubar tempo para ficar com meus filhos…lindo texto…
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Edileuza, muitissímo obrigada pela sua visita. Fico muito feliz com o seu comentário, espero de fato poder ter você por aqui novamente!… Forte abraço e muita luz nos seus caminhos!
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